EFEITO CONTÁBIL QUE ATINGIU LUCRO LÍQUIDO DA NET DEVE SE REPETIR NOS PRÓXIMOS TRIMESTRES

Apesar do bom desempenho operacional, o balanço de 2006 da Net Serviços mostrou uma redução do lucro líquido que, na avaliação de Francisco Valim, presidente da empresa, é explicado por um fator contábil. "Se o mercado se pautar pelo lucro líquido, terá uma linha errada do balanço da empresa", afirma.
O ganho líquido de outubro a dezembro somou R$ 28,4 milhões, abaixo dos R$ 130,9 milhões de igual intervalo de 2005. Em todo o ano de 2006, o lucro final ficou em R$ 81,9 milhões, montante 35% inferior aos R$ 125,7 milhões de 2005.
Antes do imposto de renda, a Net registrou lucro líquido de R$ 59,4 milhões no quarto trimestre de 2006, valor 10% maior do que o apresentado em igual período de 2005, de R$ 54,2 milhões. No ano inteiro, foram R$ 199 milhões, 60% acima dos R$ 124 milhões anotados em 2005. Segundo Valim, a previsão para 2007 é de que haja um crescimento de outros 60% no lucro antes dos impostos.
Conforme explicações do executivo, a perda no lucro líquido se deve a diferenças de uso de benefícios fiscais entre os dois períodos. Em 2005, o resultado líquido da Net incluía o uso de créditos fiscais no total de R$ 106 milhões.
Esses benefícios fiscais são créditos de prejuízo acumulado - e também de ágios vindos de aquisições - que permitem a empresas com perspectiva de gerar lucro não recolher o Imposto de Renda. Nesse caso, o crédito é capitalizado no balanço e passa a ser um ativo. Atualmente, o estoque desses créditos é de R$ 1,4 bilhão (dos quais R$ 300 milhões referem-se aos ágios) , montante que pode ser usado pela Net Serviços a qualquer tempo, respeitando algumas limitações legais que variam de caso a caso.
Segundo Valim, a intenção neste ano é fazer o uso do máximo possível desse ativo. Até que esse montante seja totalmente utilizado, a previsão é de que não haja distribuição de dividendos. A previsão de Valim é de que essa variação positiva volte a ocorrer neste ano, embora o lucro líquido deva apresentar novas reduções.
"Dizemos com clareza que vemos essa redução de lucro como positiva, e não negativa. Teremos mais trimestres com redução de lucro porque vamos aproveitar, dentro do limite legal, esse benefício fiscal", reforçou.
Segundo Eduardo Roche, analista do banco Modal, a empresa tem a opção de computar esses créditos quando lhe for conveniente. Ele diz, entretanto, que em 2006 a companhia preferiu se abster, alegando que muitas das subsidiárias adquiridas serão incorporadas pela Net Serviços neste ano. "A empresa provavelmente enxergou algum benefício futuro ao optar por fazer esse reconhecimento fiscal após as incorporações das subsidiárias", avalia Roche.
Fonte: Valor Online em 02/02/2007
Texto: Bianca Ribeiro